quinta-feira, 1 de abril de 2010

Narciso - Parte I


Outubro finalmente veio, ainda com chuvas. Olive saía com frequência com o hippie que conhecera, Dalila continuava na mesma. Na segunda sexta-feira de outubro, Dalila decidiu voltar ao Billy Boulevard, e foi sozinha. Olive tinha saído para acampar com Nolan. Porém, Dexter teve exatamente a mesma ideia que Dalila, uma vez que Malcom estava estreando seu novo pôquer pela internet.
Dexter chegou primeiro ao pub, assim que entrou, Dalila estacionou. Para sua surpresa, ele viu seus amigos (exceto Malcom, claro), cada um conversando e bebendo com as amigas de Dalila (exceto Olive, claro).
Ele se aproximou. O grupo estava aparentemente bêbado, eram exatamente três casais. Becky, Lane e Ashlee; Sean, Robin e Chad. Giravam uma garrafa na mesa e esperavam ansiosos que ela parasse.
- E aí, caras! - cumprimentou Dexter.
- Oh, ho-ho, chegou o grande Dex! Senta aí, cara - disse Sean.
- O que vocês tão fazendo? - perguntou Dexter, sentando.
- Verdade ou desafio. O fundo aponta o desafiador, a boca aponta o desafiado – explicou Lane, rindo ao ver a garrafa parar. - Vamos lá, Chad desafia a Becky!
- Ok, ok – bebeu um gole da cerveja. – Becky, verdade ou desafio?
- Desafio! - respondeu Becky, secando a garrafa de cerveja.
- Eu desafio você a beijar o Robin! - assim que Chad disse isso, ela se levantou e beijou Robin, com língua e etc.
Dalila se aproximou da mesa.
- Nossa, Becky, que é isso! - exclamou ela, Becky largou Robin, e começou a rir como os demais. Dexter pegou uma garrafa de cerveja de uma bandeja que ia passando.
- Verdade ou desafio! - Becky disse, após pedir mais uma cerveja à garçonete – Quer jogar com a gente?! Vamos, senta! - Ashlee puxou Dalila pelo braço e forçou-a a sentar em uma cadeira ao seu lado, frente à Dexter. Os dois desviaram os olhares para a garrafa parada, e Ashlee pegou mais uma garrafa de cerveja, e a entregou para a amiga ao lado.
- Então, próximo! - Becky girou a garrafa, e ficou batendo as mãos na mesa até o gargalo apontar Ashlee e o fundo apontar Robin.
- Então, Robin, verdade ou desafio? - perguntou Ashlee, com a voz embriagada. Estava mais ou menos em sua sexta garrafa de cerveja.
- Desafio! - respondeu ele, batendo os punhos na mesa.
- Eu te desafio a beijar a... Dalila! - Dalila cuspiu a cerveja e riu, porém, Robin ergueu seu rosto e beijou sua boca com o bafo de cerveja. Não durou muito, para sorte de Dalila.
Depois que todos pararam de rir, o jogo retomou seu rumo. Quando Dalila e Dexter estavam na metade de suas segundas cervejas, Ashlee já tinha permetido as mãos de Sean em seus seios, Sean já tinha lambido Chad no rosto, Chad já tinha beijado Lane, Lane já tinha beijado Dexter, e Dexter já tinha apalpado os seios de Becky.
Dalila bebeu mais gole enquanto esperava a garrafa parar. O fundo apontou Dexter e a boca apontou Ashlee, a mais bêbada.
- Verdade ou desafio, Dex? - perguntou ela.
- Desafio.
- Beije a Dalila. Mas tem que ser beijo mesmo, língua, saliva, e chiclete!
Em vez de rir, a mesa silenciou. Ashlee gargalhou, Dexter ficou com rosto quase da cor de seus cabelos. Dalila tentou argumentar com a amiga:
- Ashlee, desafie de outro jeito, vamos...
- Não, Lila, na-na-ni-na-não! Dex tem que te beijar, ha-ha.
- Vai, Dex, é o jogo - disse Chad, empurrando o amigo.
- Justamente, é um jogo, não é sério... - falou Dexter.
- Não vai estragar o clima da noite, né? Vamo, cara, é só um beijo - e tornou a empurrar o amigo.
Dexter olhou para Dalila, que o encarava. Ele se levantou, passou o tronco por cima da mesa. Segurou o rosto dela com as mãos, e o ergueu. Então beijou sua boca, conforme Ashlee mandara. Um beijo digno, que fez a nuca dele se arrepiar. A mesa estava calada.
Dexter perdeu a consciência, e ainda deu um selinho nos lábios de Dalila. Soltou seu rosto, ela se levantou, pegou o casaco e a bolsa, e saiu do pub.


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segunda-feira, 22 de março de 2010

Coincidências - parte II


Dexter olhava para Dalila com os lábios entreabertos, abobado.
- Ah, é você. Sempre você, né? - disse Dalila, pondo Norma no chão.
- É, sou eu.
- Deu pra perseguir minha família, agora?
- Não fale besteira. A Norma quase foi atropelada, pelo menos me agradeça, se teve a mesma educação que sua irmã.
- Obrigada. Mas você ainda não me agradeceu, hipócrita.
- Obrigado.
- Você é patético. Norma, não aceite nada de estranhos!
- Eu não sou estranho.
- É verdade, você é pior.
- Você realmente tem que destruir meu dia esteja onde eu estiver, não é?
- É, tenho. É realmente algo genial mandar minha irmã ser atropelada para ver se você salva ela.
- Tenho pena dessa menina, imagina que coisa horrível ter que dividir a casa com você.
- Isso foi muito engraçado.
- Vá se danar.
- Porque você não vai embora? Já salvou minha irmã, já agradecemos, o que você quer mais?
- Dalila, não manda ele ir embora, ele me salvou, dá um sanduíche pra ele! - Norma se intrometeu na briga, foi até a cesta e entregou um sanduíche natural que Dalila havia feito.
- Obrigado, Norma, não estou com fome, obrigado - Dexter recusou, educadamente. – Da próxima vez, tome conta da sua irmã. Ela não tem culpa de ser melhor do que você.
- Você fala como se me conhecesse.
- Tchau, Norma, cuidado na próxima, hein? - ele se ajoelhou e deu um beijo na bochecha suja de chocolate da garota. - Sua bochecha tá uma delícia, mas não deixe mais nenhum garoto beijá-la, tá certo?
- Prometo – e cruzaram os mindinhos. - Ei, como é seu nome?
- Dexter.
- Tchau, Dexter! - e ele se levantou e virou as costas, atravessou a rua e foi embora com o Opalla.
- Vamos embora, Norma – disse Dalila.
- Tá certo – elas recolheram a cesta e a toalha, e foram embora também.
Ao chegar em casa, Dalila ajudou a irmã mais nova a tomar banho, depois deixou-a brincar com suas bonecas, para ir tomar o próprio banho.


E, classicamente trágico, os dois se encontraram domingo, no supermercado. E logo no começo das compras, quando os dois puxaram o mesmo carrinho ao mesmo tempo.
- Pode ficar – murmuraram juntos, sem perceber que estavam se falando. E um reconheceu a voz do outro.
- Vou chamar a polícia – disse Dalila, enquanto puxava o carrinho com força.
Dexter grunhiu e puxou o outro carrinho, adentrando no último corredor, para não ter que pegar coisas ao mesmo tempo que Dalila no primeiro corredor.
As compras correram normalmente, Dalila encheu seu carrinho com frutas, legaumes e cereais enquanto Dexter havia já pego os congelados e materiais de limpeza. Porém, se encontraram no corredor de temperos, e acabaram pegando o mesmo vidro de catchup.
- Me dá – ordenou Dalila.
- Você já pegou o carrinho primeiro.
- Primeiro as damas, mal-educado.
- Você é um demônio, não é uma dama.
- Me dá isso, desgraçado!
- Tem mais na prateleira!
- Então pegue você! - seria bom que algum dos dois tivesse cedido antes. O vidro de catchup não suportou os apertos, e a tampa soltou, derramando catchup por todo o rosto e roupas de Dexter e Dalila.
- Tá vendo o que você fez?! - exclamou ela.
- Foi você, foi você! Ah, você sempre estraga tudo!
- Foi você que apertou, retardado!
- Nem vem, você também apertou!
- Você é tão infantil!
- Ha, olha só quem fala!
O gerente acabara de se postar ao lado deles, e os olhava carrancudo.
- Por favor, senhores, apenas paguem o prejuízo.
- Não vou pagar sozinha! - reclamou Dalila.
- Nem eu! - imitou Dexter.
- Então dividam o preço. É... 3,50, cada um paga um dólar e setenta e cinco centavos - sugeriu o gerente.
Dexter deu o dinheiro à ela, pegou um vidro de catchup e foi em direção ao outro corredor. As compras terminaram em paz, porém com muitos olhares dos outros clientes para as roupas e os rostos “ensanguentados”.
Enquanto Dexter estacionava o carro na garagem, pensou no ocorrido. As ocasiões insistiam em juntar eles dois, sempre. E depois pensou no motivo de todas as brigas dos dois, como a própria Dalila sugerira. No primário normalmente aconteciam porque ambos desejavam o mesmo lápis de cor, ou o mesmo brinquedo. Quando cresceram mais um pouco, suas brigas eram frequentes por pontos perdidos em provas, porque suas respostas pareciam demais e os professores julgavam fraude. E agora no colegial, tinham ódio mútuo por causa de besteiras do passado, e se irritavam quando ouviam o outro dizer que gostavam de certa banda, e os boatos que queriam o mesmo curso na mesma universidade também os deixava excessivamente irritados, e se encontravam quase sempre no mesmo lugar, do supermercado ao pub das sexta-feiras.
Dexter também pensou no que ele mesmo dissera. Se você analisar direito, parece que gostamos das mesmas coisas. Que ridículo, ele pensou. Mas não pôde segurar sua mente voltar para a frase dita e refletir com menos pessoalidade.


ps: ei pessoal, divulgem! *-* e comentem blz, quero saber se estão lendo :)
ps²: quem não leu meu outro blog: www.pleasanceliddell.blogspot.com bjs :3

domingo, 14 de março de 2010

Coincidências - Parte I


No último sábado de setembro, Norma, irmã de cinco anos e meio de Dalila, queria ir ao Central Park. A garotinha insistiu muito até a irmã mais velha finalmente ceder um passeio no Cadillac amarelo.
Dalila, claro, queria divertir a irmã, mas também queria mudar os ares. Os ensinamentos hippies de Olive e as encontradas com Dexter em corredores e aulas estavam deixando-a excessivamente irritada e de mal com a vida. Não que a companhia de Olive fosse ruim, mas sua viagem à Índia estava manipulando a sua cabeça, as amigas não tinham uma conversa decente há tempos.
Norma e a irmã prepararam uma cesta de piquenique com suco, sanduíches e maçãs. Chegaram às dez horas no parque, e logo esticaram a toalha debaixo de uma velha árvore. Por sorte, o céu estava claro e não havia o menor indício de chuva.
Dalila deixou a irmã brincar com uma bola com outras crianças em um lugar não muito afastado enquanto lia Razão e Sensibilidade. Era a quarta vez que lia esse clássico, mas não cansava. Leu pelo que lhe pareceu uma hora, até Norma chegar, ofegando e pedindo sanduíche.
As irmãs mastigaram felizes a comida, conversando sobre qualquer besteira que crianças conversam. Quando acabaram, Dalila se armou com um frisbee, levantou a irmã pela mão, e jogou o brinquedo para ela.
Norma nem sempre pegava, nem Dalila, quando a força ou o mal jeito de Norma não permetia o frisbee chegar ao seu alcance. Dalila foi ensinar à irmã como jogar o frisbee direito, e acabou jogando com força demais, o objeto voou por cima da cabeça da garotinha, ela riu e correu para pegar o brinquedo.
A menina correu pelo gramado, quando o frisbee parava debaixo de uma árvore no gramado à frente. Ela atravessou a passagem de pedestres e recuperou o brinquedo, porém quando estava novamente atravessando a passagem, ouviu uma buzina, um grito, sentiu alguém puxar com força seu corpo de repente, e viu uma bicicleta derrapar depois de quebrar o frisbee. A ciclista veio ao encontro de Norma, que estava envolvida por braços de um rapaz.
- Você está bem? Eu não te vi, você apareceu de repente, me desculpe, tome mais cuidado! - disse a mulher.
- Desculpe, moça. - disse Norma, confusa.
- Ok, eu... Eu tenho que ir! - a mulher disse, beijou a cabeça da garotinha e subiu na bicicleta novamente, recomeçando a pedalar.
- Você tem que tomar mais cuidado! - disse o rapaz que salvara Norma, e estava segurando-a agora.
- Desculpe, eu não vi. Obrigada por me salvar.
- Ah, tudo bem, você quer um sorvete? - ele parou um vendedor de sorvetes que passava e comprou duas casquinhas de chocolate.
- Obrigada! - disse Norma, lambendo feliz o sorvete.
- E cadê sua mãe?
- Não estou com minha mãe.
- Cadê seu responsável?
- Estou com minha irmã mais velha. Ela tá ali - e apontou a árvore da qual Dalila estava atrás.
- Ok, então vamos lá. - o rapaz se ajoelhou, e Norma subiu em seu pescoço, segurando na cabeça do homem.
- Seu cabelo é muuuuito legal. - a garota disse, bagunçando o cabelo muito ruivo do homem.
- Ah, obrigado! Como é seu nome?
- Norma.
- Quantos anos você tem?
- Cinco anos e meio.
- Hum, ok, sua irmã deve estar aqui atrás...
- É... - se limitou a isso, lambendo o sorvete. O rapaz parou ao chegar na parte de trás da árvore. Ele se ajoelhou e Norma desceu de seu pescoço, e ele viu um par de All Stars verdes se aproximar e sua dona perguntar à garota:
- O que aconteceu? Cadê o frisbee? - e o ruivo reconheceu a voz rouca. Ergueu a cabeça e se levantou, Dalila segurava Norma nos braços.
- Eu quase fui atropelada por uma bicicleta, mas esse cara me salvou! - e lambeu mais uma vez o sorvete. Neste momento, Dalila dirigiu sua atenção aos cabelos ruivos.

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terça-feira, 9 de março de 2010

Drama - Parte II


Na manhã de terça-feira, nublada e sem chuva, todos alunos estavam secos. As aulas ocorrerram normalmente, sem nenhum tempo de História. Porém, com um tempo de Educação Física, a última aula antes do almoço. Dexter e Dalila ficaram no mesmo time de vôlei, dividido pelo professor.
Dalila sacou primeiro, fez um ponto. O time deles fez mais alguns quatro pontos, quando Dexter foi sacar. Sem ser de propósito, seu saque falhou e foi bater logo na cabeça de Dalila, que estava à sua frente. Ela olhou para ele, irritadíssima, e a guerra começou. Todas as vezes que um encostava na bola era para afetar o outro. Logo os saques dos dois foram banidos. Porém, quando Dalila conseguiu cravar as mãos na bola, atingiu em cheio o braço direito de Dexter, que foi para o banco.
A aula terminou, e quando Dalila ia passando para se trocar, Dexter segurou seu pulso.
- Qual é, hein?
- Você começou, seu imbecil.
- Não foi de propósito.
- Então me desculpe.
Ela puxou o pulso e apertou o rabo de cavalo, indo ao vestiário.
No refeitório, Dalila pediu um suco para acompanhar um sanduíche natural. Sentou-se com Olive, Becky, Lane e Ashlee num mesa próxima à porta. Logo começaram a relatar suas sextas, todas ficaram bastante horrorizadas com fim trágico da sexta de Dalila.
Dexter pediu um copo de suco com um sanduíche também, e seus amigos tiveram a ideia de sentar ao lado da mesa de Dalila. Ela estava na ponta da mesa, e o lugar que sobrou para ele foi a ponta da mesa que se encontrava justamente com a ponta dela.
Como o resto de seus amigos pediram para narrar sua sexta, ele nem se importou com a presença dela. Porém quando ele chegou justamente na parte em que os olhos de Dalila se enchiam de lágrimas, os risos de seus amigos se acentuaram. E ela, sem pensar duas vezes, parou de fingir que escutava a narrativa de Becky e despejou o suco na cabeça de Dexter.
- QUE É ISSO? SUA... VOCÊ É RIDÍCULA! - o refeitório se calara. Dexter fez a menção de desperdiçar seu suco no rosto de Dalila também, mas ela deu um tapa em sua mão e derrubou o copo no chão.
- PÁRA DE FALAR COMO SE EU TIVESSE ARRUINADO SUA VIDA! - ela gritou - NÃO DÁ PRA ME ESQUECER? FINGIR QUE EU NÃO EXISTO?
- Bem que eu gostaria. Mas você gosta de me deixar de mau-humor.
- Você acha que levar uma surra de dois brutamontes melhoraria seu humor, então?
- Quem sabe eu não estaria mais calmo agora!
- Tá bom. Se lembre que eu também não sabia que era você. Se eu soubesse que era você ali, sem dúvida teria ajudado aqueles caras – e então ela saiu do refeitório, em passos firmes.
Quarta-feira, o dia começou do jeito normal. Porém Dexter estava super animado para finalmente ter a carteira de motorista naquela tarde, e logo depois comprar um carro, mesmo que velho. Ele tinha juntado dinheiro justamente para isso: Comprar um carro velho e reformar. Ele se sentia frustado por ter tirado essa ideia da Dalila, que retocara a pintura amarela do seu Cadillac na terça à tarde. E agora o carro dela estava só com o banco do motorista, que fora substituído por uma poltrona de um Fusca. Com certeza estaria cobrindo os bancos do clássico Cadillac. Às cinco horas, Dexter já estava numa precária loja de carros. Acabou decidindo levar um empoeirado Opalla verde.
Na seguinte segunda-feira, seu carro estava com um tom lustrado de verde, o painel reconstituído, um bom som, bancos de couro. E o motor, claro, fora totalmente reformado. Agora estava até bastante econômico.
E foi justamente na segunda que o sinal fechou, e ele parou ao lado de Dalila no seu Cadillac com bancos de estampa de oncinha. Ela estava com óculos escuros e escutava Beatles. Dexter também estava com os olhos protegidos por um wayfarer e também cantarolava Beatles, mas era outra música. Os olhares dos dois se encontraram ao mesmo tempo. “Baby it's you” se misturou com “All I've got to do”. Eles se encararam ainda por um tempo, até ouvirem a buzina dos carros atrás avisando o verde do sinal.

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domingo, 7 de março de 2010

Drama - Parte I


Na manhã de segunda-feira, Dalila acordou com bom-humor, mas muito silenciosa. Se arrumou com calma, até trocou de blusa três vezes, tomou uma boa xícara de capuccino, juntou todos os materiais, penteou o cabelo, escovou os dentes conforme o dentista manda, e conseguiu chegar limpa e seca ao colégio. Sendo setembro um mês de fortes e frias chuvas, isso era realmente um milagre até para quem tinha carro.
Ela estacionou em uma vaga longe da porta e correu com um guarda chuva sobre a cabeça até a entrada do prédio. O corredor estava molhado de pés que vinham do pátio, e bem mais lotado do que o comum. Olive estava encharcada pondo livros do armário na mochila.
- Hey Olive.
- Oi Lila! Caramba, você tá seca!
- O milagre do carro.
- Vamo comigo no banheiro? Preciso dar um jeito no meu cabelo.
- Precisa mesmo – as amigas andaram até a porta do lotado banheiro. Olive se armou com uma escova e uma loção para seus cabelos cacheados e começou a penteá-los.
- Mas, me conta, como foi sexta? - ela perguntou desembaraçando uma mecha bem difícil.
- Ah, sim, é melhor você contar sua sexta primeiro, a minha foi terrível.
- Não Lila, o meu foi ótimo, então as más notícias primeiro, e as boas segundo, por que aí a gente fica um pouco mais relaxada, entende?
- Ok. Sabe, eu me perdi no quarteirão e voltei ao mesmo ponto, e quando eu dobrei a esquina, tinha dois caras assaltando um rapaz, aí eu dei uma surra nos assaltantes – pausa para o “Oh!” de Olive – e aí quando eu vejo, quem eu acabei de salvar foi o Dexter. - “Oh-Meu-Deus!” - e aí ele me pediu uma carona, eu dei, e a gente começou a brigar, e brigar, aí deixei ele qualquer lugar e pronto.
- Nossa, Dalila, que péssimo... Mas eu espero que um dia você consiga resolver isso! Não foi dessa vez, não é?
- Ah, definitivamente não foi. E eu nem sei se um dia eu vou ter paz de fato.
- Ok, agora, a minha sexta. O Nolan, o cara que eu conheci, a gente bebeu, conversou, então ele me deixou em casa e pediu meu número, sabe. Aí quando eu saí do carro, ele também saiu, e disse pra eu esperar e chegou mais perto e me beijou!
- Nossa, que bom!
- É maravilhoso! Sabe, a gente concorda com tudo, sabe, ele ficou assim super fascinado com tudo que eu descobri sobre a Índia que ele não sabia, e disse que estava muito feliz por mim por ter a oportunidade de conhecer um mundo mágico, cheio de pensamentos positivos!
- Ah, Olive! Que bom, então! Tô muito feliz por você.
Enquanto Dalila e Olive conversavam no banheiro, Dexter, completamente molhado, entrava no corredor. Foi até o armário e trocou a camiseta listrada por uma velha camisa do colégio que tinha deixado há tempos lá. Tirou os tênis e expeliu a água deles, decidiu não calçar de novo as meias. Pôs o casaco que havia mantido seco na mochila e passou a mão pelo cabelo molhado, que estava pregado na testa.
Malcom chegou por trás dele, apenas com o cabelo úmido e os tênis e a barra da calça molhados.
- Dia ruim? - perguntou ao amigo.
- Podia ser pior – Dexter respondeu com um suspiro.
- Mas, e aí, cara tenho que te contar, aquela morena gostosa que eu peguei sexta, ela tinha namorado, tive que sair correndo, expulsei ela do Fusca, perdi minha calça, voltei só de cueca. E quando ela viu minha camisa, disse que também amava Louis Vuitton.
- A minha sexta foi pior.
- Impossível.
- Ah, é então se liga. Depois de ser vomitado pela loira que eu tava pegando, e de descobrir que você foi embora sem me avisar, eu fui andando na esperança de achar um táxi. Mas aí quando eu cheguei na esquina, do nada, dois caras me seguram e pedem tudo, um me deu um bom galo na cabeça. E aí um carro estaciona, o motorista desce, começa a bater nos caras, dá um surra, e eles fogem. O motorista, quem é? Dalila. Aí ela me deu uma carona, a gente começa a brigar.
- Clássico!
- E aí eu pedi pra ela me deixar em lugar qualquer, disse que odeio ela e ela foi embora chorando!
- Caramba, essa é nova...
- Aí eu peguei um táxi e fui até casa, dormi e pronto, fim.
O segundo tempo de Dexter e Dalila era História, juntos. Quando eles chegaram até a porta, vindo de direções opostas, não entraram. Apenas ficaram se olhando. Dalila entrou primeiro e sentou-se na cadeira ao fundo, Dexter sentou-se no meio.

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domingo, 21 de fevereiro de 2010

Roubo - Parte II


- Qual é! - os dois disseram em unissono. Dalila entrou no Cadillac e pôs o cinto de segurança. Passou a marcha quando Dexter protestou, apoiando as maõs na porta do carro.
- Qual é, Dalila, você vai me deixar sozinho?!
- E o que você quer que eu faça?
- Sei lá, você podia... Me dar uma carona, pelo menos? Levei uma pancada bruta, olha só - ele pegou a mão de Dalila do volante e forçou a ponta dos dedos dela contra o galo em sua cabeça. Ela o olhou, e riu pelo nariz.
- Deve ter afetado seu cérebro. Não que ele já não seja afetado de fábrica.
- Vai me dar carona ou não?
- Entra aí, imbecil.
- Obrigado – ele contornou o carro e entrou no Cadillac sem abrir a porta. Ela deu a partida e perguntou:
- Nós precisamos... conversar?
- Não.
- Ok, mas vou conversar do mesmo jeito. Você sabe que acabou de ser salvo por mim, que sou mulher, mais baixa, mais magra e mais nova? E além de tudo, nos odiamos?
- Quando você fala parece bem pior.
- Quando você analisar direito a situação vai me entender.
- Ok, depois eu faço isso, mas onde você aprendeu a lutar? - ela acabara de tirar um soco inglês dos dedos.
- Faço boxe.
- Estranho você nunca ter usado isso contra mim.
- Nunca é tarde demais.
- Fiquei com medo agora.
- Isso é bom. Quem sabe assim você não decide parar de me perseguir.
- Eu não te persigo, mas a gente decide sempre aparecer nos mesmos horários e lugares.
- A-ha, se eu pudesse decidir essas coincidências, com certeza faria o oposto. Faria tudo para nunca mais ter que olhar na sua cara de novo.
- Dobre à direita... - fez uma longa pausa - Isso é muito estranho.
- O que é estranho?
- Se você analisar direito, parece que gostamos das mesmas coisas.
- Cala a boca, idiota - e riu.
- O motivo da risada é...
- Pode ser que eu ache uma hipótese ridícula ou pode ser que eu ache que realmente faz sentido e estou feliz por isso.
- A primeira combina mais.
- Mas a segunda faz mais sentido, se fosse a primeira eu diria na sua cara.
- Você está feliz em descobrir que eu gosto das coisas que você gosta?
- Vou começar a gostar de cortar os pulsos, então.
- Você é patética.
- Cale a boca, você sabe que isso é algo que você diria.
- Pode ser que sim, pode ser que não.
- Nós dois sabemos a verdade.
- Você é definitivamente patética.
- Dois a zero, Dexter.
- Absolutamente patética.
- Três.
Os dois silenciaram e ficaram fitando o sinal vermelho. Depois de algum tempo Dalila ligou o som, que começou a tocar Matinee, do Franz Ferdinand. E por um segundo os dois perceberam que aquela música combinava um pouco com os dois, mas essa impressão foi quebrada antes que se tornasse algo relevante.
- Ah, e agora você vai dizer que gosta de Franz Ferdinand - retrucou Dexter.
- Eu não só gosto, eu amo.
- Ah, e agora você vai dizer que tem coração!
- Você é patético.
- Franz Ferdinand é muito nobre para uma pessoa que sai batendo em todo mundo que vem pela frente.
- Franz Ferdinand é muito nobre para uma pessoa que deixa ser defendido por uma garota que é sua inimiga.
- Olha só, eu nem sabia que era mulher, quanto mais você!
- Olha só, eu nem recebi um “obrigado” sequer!
- OBRIGADO! OBRIGADO, MUITO obrigado.
- Olha aqui, cara, não fica usando seu sarcasmo irritante comigo não, tá. EU te poupei de uma boa surra, mas acho que se eu me arrepender eu não me importaria em completar o serviço daqueles caras.
- Ok. Ah, quer saber, se você quiser me matar aqui de pancada e me deixar numa lata de lixo, por favor, não se acanhe.
- Você duvida?
- Claro que não. Mas podia, por favor, parar ali logo, eu quero sair.
- Ah, isso seria genial. Seria realmente maravilhoso! - Dalila deu uma guinada na direção e apertou a buzina com o cotovelo, sem querer. A buzina ecoou no instante, porém o som agudo continuou enquanto Dalila parava o Cadillac próximo à calçada. Estavam em uma rua deserta, em frente à uma fábrica abandonada e o comércio fechado.
- Dá pra parar? - pediu Dexter.
- Dá sim, estou fazendo de propósito!
- Ah, Deus, que diabos é que estou fazendo aqui... - Dexter pulou para fora do veículo e abriu o capô. Dalila saiu e se postou ao lado dele usando o celular como lanterna.
Dexter pôs a mão em um cantinho apertado do motor e puxou um fiozinho vermelho, fazendo a buzina calar instantaneamente.
- Obrigada - ela murmurou, fechando o capô.
- Por nada - ele respondeu em voz baixa. Apanhou o casaco do banco e começou a andar, enquanto Dalila ligava o carro.
- Você não vai querer carona? - ela perguntou, andando lentamente com o carro, acompanhando os passos de Dexter.
- Não.
- Mas é que...
- Não!
- Sério...
- Não, Dalila, NÃO! Eu não quero mais brigar! CHEGA disso, eu detesto isso, chega dessas brigas idiotas, CHEGA! EU TE ODEIO!
Ela desceu do veículo e ficou na frente dele, com os olhos cheios de lágrimas.
- Eu também não gosto de brigar. Mas se você pensar um pouco, talvez você nunca encontre um motivo convincente dessas brigas. E só te ofereci uma carona, não precisa dizer que me odeia por causa disso. Me desculpe se eu estraguei sua noite.
Ela tornou a entrar no carro e partiu.

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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Roubo - Parte I


Dalila atravessou a rua, e abriu a porta do velho Cadillac amarelo que conquistara há dois dias. Irritada, entrou no carro, pôs o cinto de segurança e tirou o carro da vaga. Sem olhar para os lados, não reparou que Dexter acabara de sair do pub com a camisa xadrez imunda de vômito. Ele repetiu palavrões de todas as espécies e línguas que conhecia. E, ao descobrir que Malcom fora embora com o Fusca, disse mais um que nem sabia se existia.
O ruivo fechou o zíper do casaco para esconder a sujeira e decidiu caminhar até achar um táxi. Foi andando, chutando tampas de garrafa. Dobrou na esquina e de repente foi forçado a parar.
Doi homens altos e musculosos o cercaram, um prendera seu braço e curvava o tronco dele para a frente, o outro imobilizara seu pescoço com a lâmina de um canivete.
- Qual é, filho da mãe, passa tudo, passa tudo, irmão! - e lhe aplicou um murro na cabeça.
- M-Meu celular f-ficou no carro...
- Que carro, que carro, retardado, você está a pé!
- No c-carro do meu amigo.
- Ok, cara, dinheiro, passa o dinheiro!
- Tá no meu b-bol...
Dexter felizmente não terminou a frase, porque um carro iluminara a esquina com os faróis e seu passageiro saíra do veículo e vinha em direção à eles.
O motorista socara o nariz do homem que imobilizara o braço de Dexter, e aplicou spray de pimenta nos olhos do assaltante que prendera o pescoço do rapaz. O socado cambaleou, o motorista deu uma joelhada nas partes íntimas do homem, em seguida chutou o abdômen do segundo. Dexter encostara-se na parede da loja de cosméticos da esquina, assitindo a cena com os olhos apertados por conta das luzes do farol. O motorista ainda socou e chutou os dois homens que agora estavam caídos, e aplicou spray de pimenta nos olhos do assaltante que ainda não tinha experimentado a ardência. Os dois homens se levantaram e fugiram com os olhos fechados.
Dexter fechara os olhos e massageava a parteda cabeça atingida.
- Você está bem? - o motorista perguntou, a voz rouca. E Dexter percebeu pela voz que não era um motorista, era uma motorista. Ele abriu os olhos lentamente, se apoiou na calçada e se levantou.
- Ah, eu não acredito! - a motorista disse.
- Nem eu! - Dexter retrucou, arregalando os olhos e recobrando a consiência. O galo em sua cabeça parecia crescer na velocidade de um balão.
Dalila cruzara os braços e assistia o rapaz massagear a cabeça.

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