domingo, 21 de fevereiro de 2010

Roubo - Parte II


- Qual é! - os dois disseram em unissono. Dalila entrou no Cadillac e pôs o cinto de segurança. Passou a marcha quando Dexter protestou, apoiando as maõs na porta do carro.
- Qual é, Dalila, você vai me deixar sozinho?!
- E o que você quer que eu faça?
- Sei lá, você podia... Me dar uma carona, pelo menos? Levei uma pancada bruta, olha só - ele pegou a mão de Dalila do volante e forçou a ponta dos dedos dela contra o galo em sua cabeça. Ela o olhou, e riu pelo nariz.
- Deve ter afetado seu cérebro. Não que ele já não seja afetado de fábrica.
- Vai me dar carona ou não?
- Entra aí, imbecil.
- Obrigado – ele contornou o carro e entrou no Cadillac sem abrir a porta. Ela deu a partida e perguntou:
- Nós precisamos... conversar?
- Não.
- Ok, mas vou conversar do mesmo jeito. Você sabe que acabou de ser salvo por mim, que sou mulher, mais baixa, mais magra e mais nova? E além de tudo, nos odiamos?
- Quando você fala parece bem pior.
- Quando você analisar direito a situação vai me entender.
- Ok, depois eu faço isso, mas onde você aprendeu a lutar? - ela acabara de tirar um soco inglês dos dedos.
- Faço boxe.
- Estranho você nunca ter usado isso contra mim.
- Nunca é tarde demais.
- Fiquei com medo agora.
- Isso é bom. Quem sabe assim você não decide parar de me perseguir.
- Eu não te persigo, mas a gente decide sempre aparecer nos mesmos horários e lugares.
- A-ha, se eu pudesse decidir essas coincidências, com certeza faria o oposto. Faria tudo para nunca mais ter que olhar na sua cara de novo.
- Dobre à direita... - fez uma longa pausa - Isso é muito estranho.
- O que é estranho?
- Se você analisar direito, parece que gostamos das mesmas coisas.
- Cala a boca, idiota - e riu.
- O motivo da risada é...
- Pode ser que eu ache uma hipótese ridícula ou pode ser que eu ache que realmente faz sentido e estou feliz por isso.
- A primeira combina mais.
- Mas a segunda faz mais sentido, se fosse a primeira eu diria na sua cara.
- Você está feliz em descobrir que eu gosto das coisas que você gosta?
- Vou começar a gostar de cortar os pulsos, então.
- Você é patética.
- Cale a boca, você sabe que isso é algo que você diria.
- Pode ser que sim, pode ser que não.
- Nós dois sabemos a verdade.
- Você é definitivamente patética.
- Dois a zero, Dexter.
- Absolutamente patética.
- Três.
Os dois silenciaram e ficaram fitando o sinal vermelho. Depois de algum tempo Dalila ligou o som, que começou a tocar Matinee, do Franz Ferdinand. E por um segundo os dois perceberam que aquela música combinava um pouco com os dois, mas essa impressão foi quebrada antes que se tornasse algo relevante.
- Ah, e agora você vai dizer que gosta de Franz Ferdinand - retrucou Dexter.
- Eu não só gosto, eu amo.
- Ah, e agora você vai dizer que tem coração!
- Você é patético.
- Franz Ferdinand é muito nobre para uma pessoa que sai batendo em todo mundo que vem pela frente.
- Franz Ferdinand é muito nobre para uma pessoa que deixa ser defendido por uma garota que é sua inimiga.
- Olha só, eu nem sabia que era mulher, quanto mais você!
- Olha só, eu nem recebi um “obrigado” sequer!
- OBRIGADO! OBRIGADO, MUITO obrigado.
- Olha aqui, cara, não fica usando seu sarcasmo irritante comigo não, tá. EU te poupei de uma boa surra, mas acho que se eu me arrepender eu não me importaria em completar o serviço daqueles caras.
- Ok. Ah, quer saber, se você quiser me matar aqui de pancada e me deixar numa lata de lixo, por favor, não se acanhe.
- Você duvida?
- Claro que não. Mas podia, por favor, parar ali logo, eu quero sair.
- Ah, isso seria genial. Seria realmente maravilhoso! - Dalila deu uma guinada na direção e apertou a buzina com o cotovelo, sem querer. A buzina ecoou no instante, porém o som agudo continuou enquanto Dalila parava o Cadillac próximo à calçada. Estavam em uma rua deserta, em frente à uma fábrica abandonada e o comércio fechado.
- Dá pra parar? - pediu Dexter.
- Dá sim, estou fazendo de propósito!
- Ah, Deus, que diabos é que estou fazendo aqui... - Dexter pulou para fora do veículo e abriu o capô. Dalila saiu e se postou ao lado dele usando o celular como lanterna.
Dexter pôs a mão em um cantinho apertado do motor e puxou um fiozinho vermelho, fazendo a buzina calar instantaneamente.
- Obrigada - ela murmurou, fechando o capô.
- Por nada - ele respondeu em voz baixa. Apanhou o casaco do banco e começou a andar, enquanto Dalila ligava o carro.
- Você não vai querer carona? - ela perguntou, andando lentamente com o carro, acompanhando os passos de Dexter.
- Não.
- Mas é que...
- Não!
- Sério...
- Não, Dalila, NÃO! Eu não quero mais brigar! CHEGA disso, eu detesto isso, chega dessas brigas idiotas, CHEGA! EU TE ODEIO!
Ela desceu do veículo e ficou na frente dele, com os olhos cheios de lágrimas.
- Eu também não gosto de brigar. Mas se você pensar um pouco, talvez você nunca encontre um motivo convincente dessas brigas. E só te ofereci uma carona, não precisa dizer que me odeia por causa disso. Me desculpe se eu estraguei sua noite.
Ela tornou a entrar no carro e partiu.

CONTINUA NO PRÓXIMO POST...

2 comentários:

  1. A-M-E-I- MESMO A HISTÓRIA *-*, super bem escrita, super perfeita.
    Tô seguindo *-*
    espero ansiosa o próximo post :D

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  2. aiai parecem cão e gato, apesar de eu naum ter ideia de quem seria o cão e o gato o.o' bem, o fim foi demais, mo suspense, mal posso esperar pela continuação!

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comenta aí, brother.